terça-feira, 19 de janeiro de 2010

A maior lição que já tive



É curioso como aprendemos lições o tempo todo, algumas que nem estávamos esperando aprender. Essa semana eu aprendi com uma morte. A morte de uma cachorra que morava no quintal de minha casa há 8 anos.
Primeiro passou aquele filme com imagens dela chegando filhotinha e pequena. Os tempos de moleca dela e as correrias no quintal. Depois não tinha mais muito filme para ver. Foram 8 anos que passaram rápido, como se fossem apenas uns 4.



Nunca me dei conta que costumo dar mais atenção aos cães da rua e de amigos do que aos meus. Por alguma razão eu não tinha paciência, não conseguia percebê-la pedindo coisas. Após saber da sua morte várias imagens e "insights" me vieram. Percebi que por vezes, após ficar um dia inteiro sem comer o que ela buscava não era comida. Eu aparecia fazendo minha parte alimentando ela. E mesmo com fome (impossível uma cadela tão grande não sentir fome após quase um dia inteiro sem comida), ela deixava o prato de ração e vinha roçar sua cabeça na minha perna. Como que pedindo algo que eu não entendia. Sempre acabava gritando, "vai comer, ali sua comida".

Ela ia comer, mas após encher a boca sempre levantava a cabeça me procurando e, após algumas mastigadas voltava a roçar sua cabeça. Na hora só conseguia enxergar a carência daquela cachorra, o fato de ela precisar de alguém por perto para comer, enxergava como uma criação errada.

Quando soube da sua morte entendi que na verdade ela não vinha só pedir carinho, vinha mostrar gratidão, vinha mostrar a mim mesmo a importância que eu tinha pra ela, mais importância que comida. Um animal faminto ainda prefere algumas passadas de mão do dono em sua cabeça.
Não pude ser mais mesquinho do que fui, não pude ser mais egoísta com um animal que me demonstrou mais amor do que eu jamais demonstrei por alguém.

Eu nem era seu membro da família preferido, eu era o mais indiferente, e mesmo assim seus olhos brilhavam ao me ver, sua cauda balançava como que instintivamente, como se a presença de um ser amado fosse tão tocante quanto uma sensação física.

O que mais me dói é saber que não vou mudar da noite pro dia, continuarei tratando com indiferença as irmãs dela que ainda estão vivas. Ao mesmo tempo que sou grato por essa cadela, também a odeio por ter me mostrado o quanto sou pequeno. O quanto sou mesquinho e tenho pouco para dar. Não consigo nem sequer dar um sorriso para pessoas que amo, não consigo elogia-las quando acho necessário e, abraçar então é algo que só faço em eventos especiais ou situações extremamente críticas.

Essa cadela me ensinou que ser racional não adianta nada quando não se tem inteligência afetiva. Foco minhas coisas apenas em mim mesmo, atraio, sugo, roubo mas em rarissimos casos ofereço, dou.

Eu vou sentr falta dela, e o que mais dói saber é que mesmo nunca tendo sido tão bom pra ela, ela também vai sentir minha falta. Não sei como falar com um animal que não vive mais, mas daria tudo pra saber, pra que de alguma forma ela soubesse que sou grato, que valorizo infinitamente todo esse ensinamento e que já me sinto menor ainda em saber que não vou mudar de imediato.

Espero que um dia eu consiga abrir mão de algo que é muito importante pra mim, algo que meu corpo esteja pedindo, para simplesmente me aproximar de alguém que amo e mostrar pra essa pessoa o quanto a amo. Se essa cadela conseguiu fazer isso, então eu também posso.

Tenho que admitir que a morte de seres humanos proximos a mim não me fizeram chorar tanto quanto a morte dessa cadela, tenho que admitir que de todas as pessoas que conheci, com quem convivi, esse animalzinho foi o que me deu a lição mais dura e valiosa, "amar ao próximo sobre todas as coisas"....

Obrigado Jade, muito obrigado por me mostrar quem sou...

Um comentário:

  1. Lindo texto. E tremendamente verdadeiro. A gente tem muito que aprender com os animais "irracionais".

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