quinta-feira, 30 de julho de 2009

Mea culpa



Sei, ou pelo menos acho que sei que temos vidas e vidas vividas e a serem vividas
Não consigo acreditar em nada que pregue o oposto disso...
Creio que vim de longe e por alguma razão estou na metade do caminho
E metade é metade... a distância é a mesma para seguir em frente ou para voltar

Em muitos momentos me vi como nessa foto... lutando contra uma fera, dezenas de vezes maior, mais assustadora e mais forte que eu
Em várias ocasiões me achei vencedor por ter conseguido fugir dela... ter conseguido me esconder em cavernas, becos, atitudes e manipulações


Pra dizer a verdade nunca a enfrentei de igual pra igual - e teria como? Olha o tamanho dela - apenas consegui ter mais agilidade e esquiva

O detalhe é que eu sempre podia voltar para o povoado dizendo ter vencido a besta... afinal, quem seria louco de ir lá conferir?
Recebi louros, glórias, elogios que na verdade não eram meus... as pessoas sorriam para mim, sorrisos que povoavam meus pesadelos continuos, oriundos da culpa e da covardia...

Gastei parte da minha vida bolando estratégias para fugir desse monstro, mas, nunca para derrotá-lo
Como não era possível manter a mentira por muito tempo acabei me tornando nômade... sempre recomeçando e terminando da mesma forma:

Um mero desconhecido que consegue cativar os nativos daquela tribo, consegue ganhar sua confiança, sua liderança (ou parte dela), faz promessas e vai!!! E volta!!! Volta vencedor... sem a cabeça do monstro, sem o coração do monstro... mas com um discurso monstruosamente ludibriador... um discurso que 100 bardos não cantariam tão bem

1000 palavras que valem mais que uma imagem...

Um falso herói, um charlatão que usufruia do conforto e da preguiça vindas de sua também falsa conquista...

Paixões, olhares, promessas... compromissos eternos que nunca conheceram a eternidade

Mas sempre havia alguém que acreditava em mim, que mesmo sabendo que eu não matei o monstro se apaixonava pela minha ousadia de contar uma mentira tão bem contada

Escolhia me seguir, abrir mão de sua vida apenas para estar ao meu lado... para viver momentos intensos que simplesmente eram levados pela mais leve brisa...

Então a desilusão, o fim e um novo mesmo começo

Nova vila, novo monstro, nova mentira, nova ilusão...

Resolvi então entrar por alguns momentos em uma caverna e me perguntar a razão disso!
Por quê nunca tentei matar esse monstro?

E acabei descobrindo que a resposta é simples:

Se o matasse eu seria um verdadeiro herói, um verdadeiro mártir... por alguns dias ou semanas no máximo
E um belo dia alguem diria pelas minhas costas "é esse cara não trabalha, não ajuda, ta certo que ele matou o monstro mas isso já faz tempo"...

Se eu matar essa besta me tornarei uma pessoa comum, me tornarei mais um... e não há nada que eu tema mais do que esse possível anonimato...

"Melhor ser falso rei de vários povos do que o melhor plebeu de apenas um"

Bem lá no fundo sei que essa besta, esse monstro sou eu mesmo, apenas eu mesmo...

Um comentário:

  1. Acreditar nisso "Se eu matar essa besta me tornarei uma pessoa comum, me tornarei mais um... e não há nada que eu tema mais do que esse possível anonimato..." é só ilusão, ou covardia. Haverá sempre outras feras com as quais teremos que lutar. Nunca ficaremos no anonimato, mesmo que queiramos, pois haverá sempre nossa consciência a nos acompanhar. Não se engane. As feras interiores têm a configuração que damos a elas. Cuidado com o que mentaliza e com o que deseja. Ficar procurando justificativas para o medo de enfrentar a vida é mais fácil que enfrentá-la.

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